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O ERMITA DA ARRÁBIDA | CHICO DAS SAIAS


Ao certo, não se sabe que idade teria aquele velho e curioso eremita da Arrábida, falecido num dia de Inverno, quando o calendário assinalava a data de 6 de janeiro de 2007.  Seguramente a sua idade rondaria os cem anos, embora ele próprio não soubesse confirmar a data do seu nascimento.
O ERMITA DA ARRÁBIDA | CHICO DAS SAIAS

Ao certo, não se sabe que idade teria aquele velho e curioso eremita da Arrábida, falecido num dia de Inverno, quando o calendário assinalava a data de 6 de Janeiro de 2007. O seu corpo desceria à fria cova logo no dia seguinte ao seu falecimento.


Seguramente a sua idade rondaria os cem anos, embora ele próprio não soubesse confirmar a data do seu nascimento.


Este homem era referenciado como o “Chico Carcavelos”, fazendo-se desta forma alusão ao local da sua origem, sendo, no entanto, mais popularmente conhecido por “Chico das Saias”, uma alcunha que lhe teria sido colocada pelo povo, por andar sempre assim trajado, como se de uma mulher se tratasse.

Ao certo, não se sabe que idade teria aquele velho e curioso eremita da Arrábida, falecido num dia de Inverno, quando o calendário assinalava a data de 6 de janeiro de 2007.  Seguramente a sua idade rondaria os cem anos, embora ele próprio não soubesse confirmar a data do seu nascimento.
O ERMITA DA ARRÁBIDA | CHICO DAS SAIAS

Também não é de admirar que algumas pessoas em Azeitão, menos conformadas com a forma como se apresentava publicamente Francisco Maria Pombo, o apelidassem de “Chico Maluco”.


Ao contrário do que se possa pensar este velho eremita, que frequentava as instalações do Parque de Campismo do Barreiro onde, por vezes, fazia algumas compras na pequena mercearia que em tempos ali funcionou, não era conhecido como homossexual, nem se lhe eram conhecidas actividades relacionadas com tal prática.


Teria até casado em 12 de Dezembro de 1944, mas a união duraria apenas pouco mais de um ano.


Segundo um dia confidenciou, a sua mulher “era má como as cobras”. E quando andava pelos vinte e tal anos de idade, separou-se dela, deixando a Aldeia de Oleiros onde residia tendo então rumado ao interior da Arrábida, instalando-se perto do Castelo dos Mouros, onde construiu um abrigo.


Era nessa zona da Mata do Vidal, que fabricava carvão, descendo depois ao vale para o vender nas casas dispersas pelos arredores. Tratava-se também de um excelente caçador e pessoas havia que lhe pediam para caçar determinados animais tendo como finalidade poderem utilizar a respectiva pele como adorno no seu vestuário.


Alguns anos depois, deixou a zona do Castelo dos Mouros e mudou-se cá mais para baixo, para a região dos Picheleiros, a escassas centenas de metros dos Parques de Campismo do Barreiro e dos Escuteiros, onde existem algumas fontes de fresca água que brotam das entranhas da serra.


Foi nesse novo e agradável local, que ele próprio construiu a sua própria habitação, e respectivo mobiliário, graças aos seus excelentes dotes de carpinteiro.


Tudo estava limpo, arrumado e notava-se ali um toque de beleza. Flores tinham sido plantadas em torno da casa e na entrada o Chico calcetou-a com pequenas pedras. Dois enormes e bonitos Ciprestes assinalavam o local.


Desde a casa até ao aceiro principal o caminho encontrava-se limpo, arranjado e isento de matagal, sobretudo de silvas. O Chico era uma pessoa extremamente zelosa, mantendo tudo na devida ordem, pois receava sobretudo a ocorrência de fogos.


Durante os cerca de setenta anos que por ali viveu, sempre que solicitado fazia uns trabalhos agrícolas, nalgumas propriedades vizinhas, de forma a poder angariar algum dinheiro, sempre necessário para os seus gastos de mercearia, combustível e aquisição de materiais de construção.


Curiosamente, quem passasse ou visitasse a sua casa não saía dali com as mãos vazias. O “Chico das Saias” fazia questão de que o visitante levasse algum produto da sua horta, a qual produzia de tudo um pouco.


Os animais selvagens da Arrábida tornaram-se seus amigos e procuravam-no frequentemente, agora que ele deixara de os caçar. Raposas, ginetes e saca-rabos, visitavam-no em busca de comida e dois outros seus vizinhos também lá iam com frequência, alternadamente, por não conviverem bem um com o outro: tratava-se de uma cobra e um lagarto.


O Chico ao final da tarde gostava de se sentar à porta da humilde, mas agradável habitação e quando os animais chegavam até ali atirava um pouco de pão, ou algum pedaço de peixe que ele mesmo secava, tal como o fazia com a carne para a conservar por mais tempo.


Mesmo com a sua vetusta idade ele percorria quilómetros e quilómetros e de vez em quando era visto em Vila Nogueira de Azeitão, vestido de mulher, usando um soutien com enchumaço sob a camisola e com a cabeça coberta com uma peruca de cor castanha ou ruiva, portando a sua pequena alcofa sempre que aqui vinha fazer compras. Tratava-se de uma pessoa simpática e muito educada, segundo a opinião de quem com quem ele lidou.


A roupa feminina e as perucas que usava eram na sua generalidade oferecidas pelas senhoras suas amigas que viviam nas belas casas existentes nas redondezas e a quem ele tratava dos jardins e das hortas.


Os anos começaram a pesar e algumas doenças começaram a apoquentá-lo, embora sempre continuasse a trabalhar nas quintas em redor. Fazia-se acompanhar sempre do seu bornal dentro do qual levava um pedaço de pão para quando os diabretes (como ele gostava de designar os seus diabetes) o incomodassem, resolver o problema comendo esse alimento, segundo se tinha convencido.


Certo dia, quando se encontrava fora da sua casa da serra, a morte surgiu de mansinho e, sem que alguém desse por isso, levou este bom e solitário homem do reino dos vivos, quando deveria rondar já os cem anos.


CASA DO CHICO DAS SAIAS NA MATA DO VIDAL

O local outrora bonito, arranjado e limpo, onde o “Chico das Saias” vivia feliz na sua solidão, em comunhão plena com a natureza, ficou posteriormente completamente degradado, coberto de lixo, feio e irreconhecível!


Em Junho de 2014 as instalações construídas pelas suas próprias mãos e onde residira o Chico das Saias foram demolidas pelas autoridades locais e tudo o que delas restava foi removido para vazadouro, nada mais restando que a sua memória.


Texto Rui Canas Gaspar

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